VESTIBULAR 2020

Fuvest exigiu leitura de livros e tema da redação não foi surpresa Professores comentam prova da segunda fase realizada neste domingo e avaliam possíveis abordagens para texto sobre importância da ciência
EDUCAÇÃO 
Márcio Pinho, do R7



A prova da segunda fase da Fuvest realizada neste domingo (5) foi considerada “clássica” por professores de cursinhos, com questões com certo nível de dificuldade cobrando conhecimentos importantes para o ingresso em uma universidade, mas que poderiam ser resolvidas por estudantes que se prepararam e que, principalmente, leram as obras exigidas.

A prova de língua portuguesa teve seis questões mais focadas em língua e linguagem e quatro de literatura. Já a redação focou novamente em tema ligado à realidade e a debates existentes no país, propondo um texto sobre “a importância da ciência para o mundo contemporâneo”.

Segundo Sergio Paganim, coordenador de Linguagens do Anglo, as questões de literatura cobravam conhecimento das obras e não se limitaram a usar trechos para interpretação de texto. “Caíram 'Mayombe', 'O Cortiço', 'Quincas Borba', 'Angústia' e 'Relíquia'. Foram questões que cobram mais enredo, o conhecimento da história do que interpretação dos recursos e temas abordados”, diz.


Ele afirma que as questões de português trouxeram diferentes gêneros textuais, como uma imagem famosa, reportagem, depoimento, texto de blog e capa de revista. “Tem uma variedade de gêneros textuais para avaliar a capacidade de leitura”.

Outras habilidades cobradas foram a apreensão de sentido de expressões complexas, formação de palavras, função sintática e identificação de figuras de linguagem. “Foi uma prova exigente e não escapa ao modelo que a Fuvest tem adotado”, avalia Heric José Palos, coordenador de Português do Grupo Etapa.

Redação

Também professor do Etapa, o coordenador de Redação, Wellington Borges Costa, afirma que o tema foi “pertinente, necessário” e permite à universidade marcar uma posição como fomentadora de ciência.

Para o professor, a palavra-chave para elaborar o raciocínio poderia ser “paradoxo”. “Estamos vivendo um paradoxo. Nós vivemos melhor que qualquer geração anterior graças ao desenvolvimento da ciência, seja no campo da medicina, da arquitetura, da engenharia. Paradoxalmente uma parcela da população usa tecnologias para disseminar um negacionismo científico, que começa com um movimento terraplanista e chega a um movimento antivacinação”, diz.

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Segundo Sergio Paganim, do Anglo, a coletânea de textos de apoio ajudava a pensar em algumas abordagens. O candidato poderia falar sobre os efeitos positivos da ciência, na qualidade de vida e no desenvolvimento, por exemplo, mas também dos aspectos negativos, como o utilitarismo, a crítica à ciência mesmo por quem se beneficia dela.


Outra análise importante seria a relação da ciência com a sociedade. "Podíamos pensar na necessidade da educação da sociedade para a promoção da ciência. E o papel da ciência, que não pode ser enclausurada, precisa ser popularizada para ganhar a adesão da sociedade”, afirma. Nesse sentido, o distanciamento da sociedade em relação à ciência, a falta de compressão, pode colaborar para a promoção de fake news e a disseminação do autoritarismo, argumenta o professor.

O coordenador-pedagógico do Curso e Colégio Oficia do Estudante, Leandro Baldo, afirma que o tema é bastante "recorrente". "O aluno bem preparado certamente trabalhou com esse assunto ao longo do ano, porque ficou bastante evidente nas fake news, que questionavam dados científicos", diz.

Ele avalia que, de modo geral, a prova foi "tranquila" e não apresentou grandes dificuldades para o aluno que se preparou. "Não tinha nada muito fora do comum", avalia.

Interpretação

Baldo destaca que a interpretação de texto também esteve presente em boa parte das questões. "É uma tendência hoje em dia, nos vestibulares, cobrar muito mais interpretação do que gramática pura. Só cerca de 20% foram de questões específicas de gramática", afirma.